sábado, 11 de abril de 2015

Mário Ferreira dos Santos - Quanto aos modos de significação dos conceitos

Um têrmo, ou conceito, é unívoco, quando aplicado a diversos sêres com a mesma significação. Animal é unívoco quando aplicado a boi, cavalo, símio, etc. Quando usamos, porém, "que animal", referindo-nos a um homem, em sentido naturalmente pejorativo, não o usamos univocamente, mas anàlogamente, porque, aí, retiramos o racional, que caracteriza a essência do homem. O mesmo quando empregamos um "águia", um "leão", um "urso", etc.

Escrevemos em "Ontologia e Cosmologia":

eqüívoco um conceito ou têrmo quando é aplicado a diversos sêres com significação totalmente diferente. Assim 'cão', quanto ao animal e quanto à constelação, etc.

É análogo, quando aplicado a coisas diversas, com acepções que não são nem pròpriamente idênticas, nem completamente diferentes. Exs.: uma razão forte e uma árvore forte, etc.

Os conceitos aplicados aos objectos, de onde são tirados por abstracção, e aplicado ao ser, enquanto ser, ou às realidades que são o objecto da metafísica, são unívocos, eqüívocos ou análogos?

Não podem ser eqüívocos, pois não há nenhuma realidade que seja totalmente diferente do mundo de nossa experiência. Deus ultrapassa-nos totalmente, mas não é impermeável a nós, pois é a origem de tudo, em tudo há algo dêle.

Não podem ser unívocos, pois as realidades metafísicas, às quais nós os aplicamos, diferem dos factos da experiência de onde foram abstraídas.

São, portanto, análogos.

A univocidade leva-nos ao monismo, que admite uma única realidade: Deus (monismo panteísta) ou matéria (monismo materialista) ou pensamento (monismo idealista).
A eqüivocidade supõe o dualismo ou o pluralismo, ou seja, a existência de realidades totalmente diferentes e independentes. Só a analogia pode assegurar a pluralidade na unidade: distinção do Ser absoluto e dos sêres relativos, mas unidades, porque os sêres relativos obtêm o ser do ser absoluto; distinção da alma e do corpo, mas unidade substancial."

Tratado de Simbólica, pág. 75