domingo, 15 de novembro de 2015

«[...]no domínio da símbólica não há um código geral de decifração, mas apenas códigos particulares que, também eles, exigem uma interpretação. Um símbolo não significa: evoca e focaliza, reúne e concentra, de forma analogicamente polivalente, uma multiplicidade de sentidos que não se reduzem a um único significado, nem apenas a alguns. Uma nota de música também não tem um sentido determinado e definitivo, embora não seja um sinal qualquer. Depende tão intimamente do seu contexto rítmico e sonoro como o símbolo depende do contexto mítico e ritual que lhe está associado.

Penetrar no mundo dos símbolos é tentar perceber as vibrações harmónicas e, de certa forma, adivinhar uma música do universo. Para isso não é necessário apenas intuição, mas também um sentido inato de analogia, um dom que pode ser desenvolvido pelo exercício, mas que não se adquire. Há um "ouvido simbólico", tal como há um "ouvido musical", que é parcialmente independente do grau de evolução cultural dos indivíduos. O "ouvido simbólico" do aborígene australiano, por exemplo, encontra-se muito mais desenvolvido que o do homem civilizado moderno.



René Alleau - A Ciência dos Símbolos, pág. 9