Todos os ideais e expressões populares modernos
são evasivas para evitar o problema do que é o bem. Gostamos de falar
de “liberdade”, ou seja, temos uma desculpa para evitar discutir o que é
bom. Gostamos de falar do “progresso”, ou seja, temos um expediente
para evitar discutir o que é bom. Gostamos de falar de “educação”, ou
seja, temos um método para evitar discutir o que é bom. O homem moderno
diz: “Deixemos de lado todos os padrões arbitrários e abracemos a
liberdade”. Caso isto seja logicamente compreendido, significa, “Não
decidamos o que é bom, mas deixemos que seja considerado bom não
decidir”. Diz também, “Fora com nossa antiga fórmula moral; sou pelo
progresso”. Isso, logicamente compreendido, significa: “Não fixemos o
que é bom; mas estabeleçamos se vamos receber mais do mesmo”. Diz ainda,
“Não é nem na religião nem na moral, meu amigo, que repousa a esperança
da raça, mas na educação”. Isso, claramente expresso, significa: “Não
podemos decidir o que é bom, mas deixemos que seja dado aos nossos
filhos”.
[…]
Estamos apenas passando ao homem gerado um problema que nós mesmos não ousamos resolver. É como se alguém fosse perguntado, “Para que serve um martelo?”, e a pessoa respondesse, “Para fazer martelos”; e quando lhe fosse perguntado, “E esses outros martelos, para que servem?”, tal pessoa respondesse, “Para fazer outros martelos”. Esse homem estaria perpetuamente evitando a questão do supremo uso da carpintaria. Da mesma forma, o sr. H.G. Wells e todos os demais, pelo bom uso dessas expressões, evitam a questão do valor último da vida humana.
[…]
O progresso, devidamente compreendido, tem, de fato, um significado muito digno e legítimo. Mas, se usado em contraposição a ideais morais definidos, se torna absurdo. Assim, mesmo não sendo verdade que o ideal de progresso deva ser confrontado com a finalidade ética ou religiosa, o inverso é verdadeiro. Ninguém pode usar a palavra “progresso” a menos que tenha um credo definido e um rígido código moral. Ninguém pode ser progressista sem ser doutrinário. Quase poderia dizer que ninguém pode ser progressista sem ser infalível — de qualquer forma, sem acreditar em certa infalibilidade. Pois o progresso, pelo próprio nome, indica uma direção; e no momento que temos a mais ínfima dúvida sobre qual direção tomar, ficamos, da mesma forma, em dúvida sobre o progresso. Talvez, desde o começo do mundo, nunca tenha havido um período com menos direito de usar a palavra “progresso” do que o nosso. No católico século XII, no filosófico século XVIII, a direção pode ter sido boa ou ruim, os homens podem ter discordado mais ou menos a respeito do quanto progrediram, e em qual direção, mas, no geral, concordavam a respeito da direção tomada, e consequentemente, tinham a genuína sensação de progresso. Todavia, discordamos exatamente sobre a direção. Se a futura excelência reside em ter mais ou menos leis, em ter mais ou menos liberdade; se a propriedade será finalmente concentrada ou finalmente dividida; se a paixão sexual alcançará um patamar saudável num intelectualismo quase virgem ou numa completa liberdade animal; se devemos amar a todos com Tolstói ou se não devemos poupar ninguém como Nietzsche, — é a respeito dessas coisas que lutamos hoje em dia. Não só é verdade que a época que menos determinou o que é o progresso seja a mais “progressista” das eras, como, aliás, é verdadeiro que o povo que menos estabeleceu o que é o progresso, seja o povo mais “progressista”. À massa comum, aos homens que nunca se preocuparam com o progresso, talvez possa ser confiado o progresso. Os indivíduos particulares que falam sobre o progresso correriam para os quatro cantos do mundo quando o disparo do tiro assinalasse o começo da corrida. Não digo, portanto, que a palavra “progresso” não tenha significado; digo que não tem significado sem a definição prévia de uma doutrina moral, e que tal definição só pode ser aplicada a grupos de pessoas que mantenham uma doutrina comum. O progresso não é uma palavra ilegítima, mas parece ser logicamente evidente que é ilegítima para nós. É uma palavra sagrada, uma palavra que só poderia ser usada acertadamente pelos crentes fervorosos e nas eras de fé.
[…]
Estamos apenas passando ao homem gerado um problema que nós mesmos não ousamos resolver. É como se alguém fosse perguntado, “Para que serve um martelo?”, e a pessoa respondesse, “Para fazer martelos”; e quando lhe fosse perguntado, “E esses outros martelos, para que servem?”, tal pessoa respondesse, “Para fazer outros martelos”. Esse homem estaria perpetuamente evitando a questão do supremo uso da carpintaria. Da mesma forma, o sr. H.G. Wells e todos os demais, pelo bom uso dessas expressões, evitam a questão do valor último da vida humana.
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O progresso, devidamente compreendido, tem, de fato, um significado muito digno e legítimo. Mas, se usado em contraposição a ideais morais definidos, se torna absurdo. Assim, mesmo não sendo verdade que o ideal de progresso deva ser confrontado com a finalidade ética ou religiosa, o inverso é verdadeiro. Ninguém pode usar a palavra “progresso” a menos que tenha um credo definido e um rígido código moral. Ninguém pode ser progressista sem ser doutrinário. Quase poderia dizer que ninguém pode ser progressista sem ser infalível — de qualquer forma, sem acreditar em certa infalibilidade. Pois o progresso, pelo próprio nome, indica uma direção; e no momento que temos a mais ínfima dúvida sobre qual direção tomar, ficamos, da mesma forma, em dúvida sobre o progresso. Talvez, desde o começo do mundo, nunca tenha havido um período com menos direito de usar a palavra “progresso” do que o nosso. No católico século XII, no filosófico século XVIII, a direção pode ter sido boa ou ruim, os homens podem ter discordado mais ou menos a respeito do quanto progrediram, e em qual direção, mas, no geral, concordavam a respeito da direção tomada, e consequentemente, tinham a genuína sensação de progresso. Todavia, discordamos exatamente sobre a direção. Se a futura excelência reside em ter mais ou menos leis, em ter mais ou menos liberdade; se a propriedade será finalmente concentrada ou finalmente dividida; se a paixão sexual alcançará um patamar saudável num intelectualismo quase virgem ou numa completa liberdade animal; se devemos amar a todos com Tolstói ou se não devemos poupar ninguém como Nietzsche, — é a respeito dessas coisas que lutamos hoje em dia. Não só é verdade que a época que menos determinou o que é o progresso seja a mais “progressista” das eras, como, aliás, é verdadeiro que o povo que menos estabeleceu o que é o progresso, seja o povo mais “progressista”. À massa comum, aos homens que nunca se preocuparam com o progresso, talvez possa ser confiado o progresso. Os indivíduos particulares que falam sobre o progresso correriam para os quatro cantos do mundo quando o disparo do tiro assinalasse o começo da corrida. Não digo, portanto, que a palavra “progresso” não tenha significado; digo que não tem significado sem a definição prévia de uma doutrina moral, e que tal definição só pode ser aplicada a grupos de pessoas que mantenham uma doutrina comum. O progresso não é uma palavra ilegítima, mas parece ser logicamente evidente que é ilegítima para nós. É uma palavra sagrada, uma palavra que só poderia ser usada acertadamente pelos crentes fervorosos e nas eras de fé.